EM 1928 COM A PUBLICAÇÃO DE A BAGACEIRA, DÁSE INICIO A UM NOVO CICLO DO MODERNISMO BRASILEIRO.
O CHAMADO REGIONALISMO DE 30 OU ROMANCE NORDESTINO FOI UM MOVIMENTO FICCIONISTA BASEADO NO
AMBIENTE SÓCIO-GEOGRÁFICO DO NORDESTE.
A REGIÃO DO NORDESTE PRESTAVA-SE À MARAVILHA PARA A VALORIZAÇÃO DAS TRADIÇÕES CULTURAIS, DAÍ A
FORÇA COM QUE
O MOVIMENTO REGIONALISTA SE DIFUNDIU POR TODA A REGIÃO DA BAHIA AO CEARÁ E MAIS
A REGIÃO NORTE. (Coutinho, 1986)

OS ROMANCISTAS DA DÉCADA OFERECEM UMA VISÃO ALTERNATIVA DO BRASIL, BUSCANDO MAIOR INSERÇÃO
DA LITERATURA NOS PROBLEMAS ATUAIS, JÁ QUE NESTE PERÍODO NÃO SÓ O BRASIL MAIS O MUNDO PASSA
POR UM IMPORTANTE MOMENTO POLÍTICO. DESSA FORMA OS ESCRITORES USAM A FICÇÃO, A DESCRIÇÃO E O
ROMANCE COMO FORMA DE DENUNCIAR AS DESIGUALDADES E INJUSTIÇAS SOCIAIS.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

RECURSO USADO EM APRESENTAÇÃO

Lamento Sertanejo

Por ser de lá
Do sertão, lá do cerrado
Lá do interior do mato
Da caatinga do roçado.
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigos
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado.

Por ser de lá
Na certa por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo.
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada caminhando a esmo.

Veja vídeo...

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O País do Carnaval, de Jorge Amado


Publicado em 1931 é o primeiro romance de Jorge Amado, escrito quando ele tinha apenas 19 anos. O País do Carnaval surpreendeu a crítica: um livro crítico e contestador sobre a ética – ou falta dela – dos intelectuais da época diante da situação social e política do Brasil às vésperas da revolução de 30, liderada por Getúlio Vargas. Expressa o clima intelectual da época, marcado pela idéia de crise e incerteza. Jorge Amado surpreendeu a crítica e o público com sua aguçada crítica política.

O País do Carnaval conta a história de Paulo Rigger, intelectual educado em Paris. Ele desembarca na Bahia com a francesinha Julie, sua amante, que acaba o traindo com Honório, um hercúleo trabalhador negro do campo. Desiludido, Rigger demite Honório e abandona sua amante num hotel de Salvador, seguindo de navio de volta à Europa e deixando para trás o Brasil em pleno Carnaval.

O romance tem descrições de menos, diálogos inacabados, personagens que se perdem, discussões sobre o sentido da vida e a felicidade que não chegam a lugar nenhum. Jorge Amado fala, nesse livro, de uma juventude plena de inquietude, numa ansiosa e mesmo angustiada busca de verdades e caminhos. Trata-se, em suma, de um retrato geracional — tecido a partir das rondas de Paulo Rigger que regressa à Bahia acompanhado de uma prostituta de luxo francesa. Volta a conviver com seus velhos amigos, hoje jornalistas e juristas. Descobre que as vidas deles é tão inútil quanto a sua e que não ama o país em que vive.

No final, insatisfeito e desencantado, marcado por uma renúncia preconceituosa à chegada do amor, Rigger embarca, no porto do Rio de Janeiro, com destino à Europa. Toma o navio rumo a Paris, rogando pragas ao "país do Carnaval". Leva com ele as suas dores, deixando atrás de si uma cidade alucinada pelos ritmos e brilhos do carnaval.

Na introdução, Amado confessa que gostaria de ter intitulado o livro "Os homens que eram infelizes sem saber por quê".

Personagens

Paulo Rigger: filho de rico cacauicultor recém falecido, de volta de Paris.

Julie: a francesa, amante de Paulo que desembarca com ele no Rio.

Pedro Ticiano: ateu, homem cético, o terror dos letrados.

Ricardo Reis: piauiense, tentando a vida na Bahia. Poeta, funcionário público, estudante de direito.

A. Gomes: jornalista, diretor de uma revista, sonha ficar rico.

Jerônimo Soares: o mais apagado dos amigos. Mulato, ingênuo, sem vaidades.

José Lopes: o mais estranho de todos. Batia de frente com Ticiano.

Maria de Lourdes: jovem pobre, por quem Paulo Rigger se apaixonaria.

Manifesto Regionalista de 1926

Leia o Manifesto atraves do link abaixo:

http://www.arq.ufsc.br/arq5625/modulo2modernidade/manifestos/manifestoregionalista.htm

A importância de Gilberto Freyre, José Lins do Rego e Graciliano Ramos na construção do Regionalismo de 30

Se é verdade, como prova com veemência Joaquim Inojosa , que Gilberto Freyre (1900-1987), num de seus rasgos de mitomania, inventou a existência de um Manifesto Regionalista, que teria redigido em 1926, em Recife (PE), não é menos verdade que o sociólogo exerceu decisiva influência na conformação do ideário do chamado "Regionalismo de 30". Em 1923, recém-chegado dos Estados Unidos, onde estivera estudando desde cinco anos antes, Freyre "andava em verdadeiras núpcias com a terra" [2], segundo palavras de José Lins do Rego (1901-1957): "Havia nessa época o movimento modernista de São Paulo. Gilberto criticava a campanha como se fosse de uma outra geração. O rumor da Semana de Arte Moderna lhe parecia muito de movimento de comédia, sem importância real. O Brasil não precisava do dinamismo de Graça Aranha, e nem da gritaria dos rapazes do Sul; o Brasil precisava era de se olhar, de se apalpar, de ir às suas fontes de vida, às profundidades de sua consciência".
E são as idéias de constituição de um "regionalismo orgânico" que Freyre, a convite de José Lins, apresentará, em 1924, aos jovens escritores da Paraíba (João Pessoa), entre eles o romancista José Américo de Almeida (1887-1980), que quatro anos mais tarde publicaria A bagaceira, tido como marco inaugural do movimento. Naquela época, José Lins, formado em Direito no Recife, onde se tornara amigo de Freyre, estava de volta à Paraíba para se casar. Em 1925, ele ingressa no Ministério Público e muda-se para Manhuaçu (MG), mas um ano depois renuncia ao cargo de promotor público e consegue uma nomeação para fiscal de bancos em Maceió (AL). E esta pequena cidade, de pouco mais de 90 mil habitantes, onde permanecerá por quase dez anos, entre 1926 e 1935, o futuro romancista transformará em foco de irradiação das convicções ideológicas de Freyre (que evidentemente passam a ser também suas).
Logo ao desembarcar em Maceió, José Lins retoma sua atividade jornalística, iniciada no Recife, e faz-se amigo de Jorge de Lima (1893-1953), médico, ex-deputado e celebrado poeta parnasiano (principalmente pelo soneto O acendedor de lampiões, do seu livro XIV Alexandrinos, publicado em 1914). Em 1925, Jorge de Lima imprime um folheto de poemas, intitulado O mundo do menino impossível, saudado por José Lins com entusiásticas palavras, devido à sua adesão não ao modernismo, mas... ao regionalismo. "Jorge de Lima (...) voltou a si, recobrou os sentidos. A sua literatura de antes era uma literatura fora do tempo e do espaço. E mesmo, se quiséssemos situá-la, uma arquitetura em cera". E continua, afirmando que se o poeta rompeu com o passadismo, não foi a "convenção modernista" que o levou aos novos versos: "A poesia foi quem o levou a isso. Aos seus poemas ele deixou que vivessem à vontade. Fugiu de os ajustar aos seus preconceitos de antigamente ou de os compor assim para não ficar atrás, como certos sujeitos, sempre preocupados em tomarem à hora certa os trens que levam à notoriedade e à voga".


Este texto, foi publicado originalmente nas páginas do Jornal de Alagoas e passou a integrar, como posfácio, as edições de Poemas, de 1927, e Poemas escolhidos, de 1932.

A INVENSÃO DO NORDESTE : Livro

O trabalho de pesquisa para a realização do doutorado em História na Unicamp, defendido por Durval Muniz de Albuquerque Junior em 1994 apresenta o surgimento de um recorte espacial, de um lugar imaginário e real no mapa do Brasil, que todos nós conhecemos profundamente, não importa de que maneira, mas que nunca pudemos imaginar com uma existência tão recente. E falar do Nordeste é inventariar os muitos estereótipos e mitos que emergiram com o próprio espaço físico reconhecido no mapa composto por alguns estados e cidades. É mobilizar todo o universo de imagens negativas e positivas, socialmente reconhecidas e consagradas, que criaram a própria idéia de Nordeste.


Veja mais sobre o livro e sobre o Nordeste no Link : http://blogdogutemberg.blogspot.com

VIDAS SECAS : Análise e Contextualização

Na ótica do subdesenvolvimento social e econômico brasileiro, especialmente, na década de 30 do século passado, onde toda esta realidade perversa passou a ser narrada, Vidas Secas deve ser contextualizada, na medida em que, às escâncaras, abandona então a amenidade e curiosidade, bem como o que havia de mascaramento no encanto do pitoresco ou no enfoque ornamental com que antes se tratava o homem rústico brasileiro face ao regionalismo do século XIX.
Para entender-se a ruptura de Vidas Secas com a plenitude das tradições da ficção regionalista brasileira, se tem de retroceder as origens do regionalismo e a construção de uma tradição literária no Brasil. Ao contrário dos países da Europa onde a cultura é secular, pelo que a tradição vem sendo construída a milênios, o Brasil é um pais jovem.
Neste panorama, se faz a contextualização de Vidas Secas no quadro da literatura de 30, vez que, a obra com as matizes do regionalismo, faz um retrato real, cruel e brutal das relações sociais, nitidamente, feudais imperantes no Nordeste do Brasil na época, servindo para demonstrar de forma violenta, com traços do realismo, que aqueles fatos embora até aceitos pela sociedade local, causavam graves lesões ao tecido da pessoa humana, por isto há menos tipos, espaços e condições exóticas, todas inerentes e exigidas pela tradição regionalista do século XIX, que assim, ganha novos contornos, onde a realidade sócio-econômica, também passa a ter grande e quiçá maior relevo.
Por tais motivos, Vidas secas é uma obra pela sua formação e conteúdo singular na literatura, embora faça uma análise das condições sociais do Nordeste do Brasil o que é inerente ao contexto da literatura da época.
Graciliano Ramos penetra no pensamento, na carne e na alma de cada um dos membros da família de Fabiano, visando mostrar de forma brutal a discriminação, a cultura e a realidade do sertanejo nordestino.
O “sentido da vida” ou os porquês de tantas desgraças são os temas pelos quais tudo de desenrola, alias o próprio título da obra endossa esta tese, vez que seca, na linguagem popular, segundo o Aurélio, tem o significado de “má sorte” ou azar, portanto Vidas Secas tem a inteligência de Vidas sem sorte, o que reporta à razão e ao sentido desta existência desafortunada.
Este procurar incessante se apresenta, claramente, no título em que Fabiano procura por uma raposa. Apesar do fracasso da empreitada, ele está satisfeito. Pensa na situação da família, errante, passando fome, quando da chegada àquela fazenda. Estavam bem agora. Fabiano se orgulha de vencer as dificuldades tal qual um bicho. Agora ele era um vaqueiro, apesar de não ter um lugar próprio para morar. A fazenda aparentemente abandonada tinha um dono, que logo aparecera e reclamara a posse do local. A solução foi ficar por ali mesmo, servindo ao patrão, tomando conta do local. Na verdade, era uma situação triste, típica de quem não tem nada e vive errante. Sentiu-se novamente um animal, agora com uma conotação negativa. Pouco falava, admirava e tentava imitar a fala difícil das pessoas da cidade. Era um bicho.
A obra inteira se desenrola pela falta de resposta a esta pergunta de Fabiano e sua família, qual era a razão da vida deles ? Não havia motivo para tanta desgraça, mas a narrativa dá a resposta de forma irônica, eram todos bichoOutra característica marcante é a falta de dialogo entre os membros da família, o narrador substitui os diálogos, por pensamentos, pensamentos estes em que ele ocupa o lugar do personagem, seja ele humano ou animal, mesmo assim, se utiliza de expressões regionais, adequando-os à sintaxe tradicional. A ausência de diálogos se faz presente devido à uma ausência vocabular por parte das personagens, que se comunicam através de onomatopéias, exclamações, resmungos e gestos, enfatizando a animalização dos personagens e a solidão, marcante da vida de todos os membros da família, que são marginalizados também pelo fator lingüístico Assim, há a predominância do discurso indireto livre ou através de monólogos interiores, onde o narrador ordena logicamente os discursos e pensamentos dos personagEm outro ponto, a tendência do regionalismo da década de 30, no sentido de um realismo brutal, uma verossimilhança cruel, foi seguida na construção das personagens de Vida Secas. Fabiano foi construído e se constituiu como um personagem padrão de um camponês Nordestino, ou seja, concebido a luz de um modelo real e publicamente conhecido, ou seja, ignorante, resignado externamente, mas que intimamente lutava contra as desigualdades, tanto que sua luta sempre restava “resolvida” pelo único meio permitido pelo sistema, que era a fuga. O mesmo se operando de Sinhá Vitória e dos dois meninos.
Sob o aspecto físico nada se tem de Sinhá Vitória e dos dois meninos, sabe-se apenas que o sonho dela é ter uma cama de varas; quanto a Fabiano, tente-se apenas descrição sumária de ter barba ruiva e castigada pelo sol, mãos calejadas e grossas, pés duros, mostrando assim, um tipo exemplar de pessoa castigada pela rudeza da vida.

Ensaio literário de Vanderlei Spiniello Xavier da Silva